quarta-feira, 7 de julho de 2010
COMO CHEGUEI AO BAIRRO!....
APONTAMENTO DE UMA GERAÇÃO MAIS GASTA!
(PARTE I)
COMO CHEGUEI AO BAIRRO!
-Nasci em Penela, mesmo à beirinha de Coimbra, filho de pai motorista, mecânico, músico, electricista, etc. e de mãe doméstica, ginasta (na gestão dos parcos recursos), para alimentar 5 filhos, e amanhadora de terras arrendadas, que produzissem sustento!
Porque, não sei se felizmente, adoeci com uma “nefrite” e digo felizmente porque nesse tempo a cura estava essencialmente em passar fome, e também, mas sobretudo porque terá definido a minha vida futura!
Diz meu pai, Manel para minha mãe Isaura!:
.O nosso filho, não tem físico para as terras, por isso faz a 4ª classe e em simultâneo prepara-se para a admissão ao Liceu e vai para Coimbra estudar!
Lá fiz a 4º classe, muito à custa de chapada e reguada, com “ aprovação”,(distinção era para os inteligentes), mas com a sentença do professor:senhor Manuel o seu filho vai andar mais um ano a preparar-se, tá fraquinho no saber e pode chumbar na admissão ao Liceu!
Lá andei mais um ano, pago em géneros, sobretudo cabritos! (de SICÓ?)
Admissão feita! Só que um ano de atraso, motivou que não pudesse ser matriculado no Liceu, por excesso de idade!
Com os diabos… vai ser complicado, mas vai para o Colégio!
O mais barato na altura era o São Paulo, no Bairro Sousa Pinto!
Fantástico: filho de pais pobres, mas em Colégio!
Só mais tarde me apercebi que esta decisão esteve ligada à emigração de meu pai para Moçambique!
E assim cheguei ao Bairro, mais tarde inaugurado como Bairro Marechal Carmona!
Vim para casa de meus tios Deolinda e Sr Abegão, enfermeiros de profissão e onde já estavam o meu irmão Paulo já empregado e minha irmã Belita, como aprendiz de costureira, na casa da modista D. Lourdes Arnaut.
Cabia sempre mais um!
Nesse tempo 1949/1950, poucas casas estavam prontas a ser habitadas pelos desalojados da Alta.
Eram de 4 tipos as casas a distribuir pelos desalojados:
Tipo I, a vivenda mais pequena, com dois quartos
Tipo II, vivenda um pouco maior com três quartos
Tipo III vivenda ainda maior com três quartos em cima e casa de banho e em baixo além da cozinha três divisões sem paredes a separá-las
Tipo IV, um pouco mais de área, mesmo quartos em cima e casa de banho, mas em baixo, além da cozinha, um quarto e uma sala comum, que seriam duas divisões.
Aos meus tios foi dada a casa maior, dentro do critério estabelecido, rendimentos/número de pessoas.
Claro que havia cunhas! A geminada com esta foi entregue a uma Senhora importante da cidade, que vivia só com a “criada”, mas que estaria ligada ao Engenheiro Costa Alemão, o responsável mor pela construção do Bairro!
Fui assim assistindo, ano após ano à sua construção!
Aqui comecei a minha pouco brilhante carreira como estudante!
As idas e vindas para o Colégio São Paulo e mais tarde para o São Pedro, eram feitas sempre a pé, quatro vezes ao dia, via rua do Teodoro, por ser mais perto!
Um pouco vergado ao peso do “chumbo”, não passei do 5º ano e suponho que ainda fiz a cadeira do 7º ano, Organização Politica.
Nota curiosa: nesse tempo a grande maioria dos alunos do Liceu e Colégios usavam capa e batina e estavam sujeitos à praxe!
Para mim foi muito bom, pois escusava de comprar roupa, andando de capa todo o ano!
Os furos nas aulas eram passados a jogar matrecos no “monstro” na Praça da Republica, sempre à pala dum parceiro que fosse rico, ou então a jogar à bola no Santa Cruz!
Com a ida de meu pai para África e depois duma curta estadia na Vista Alegre, junto à Arregaça, passei a viver na Rua B (Guiné).
Entretanto com muitas mais vivendas já habitadas, começaram as amizades entre rapazes e raparigas!
Passeávamos pelas ruas, desertas de carros, fazíamos jogos inocentes da época, com o lencinho, o anelinho, o jogo “ daqui me perguntou…daqui me respondeu” e outras situações que hoje são ridículas só de as mencionar!(isto com idades de 15/16 anos!!!!!)
Enfim mas havia os bailes com muita frequência: ou na garagem(casino) da Graciete, ou na garagem do Zé Martins(mesmo com óleo no chão), ou os “assaltos” a várias casas como do Sr Matos (Luísa Murta), ou da Isabel Soares que viria a casar com o Rui Umbelino.
Música seleccionada, umas mais em andamento separatista, como a “chinelinha”, outras mais tangueiras que permitiam aos mais arrojados uma aproximação corporal mais intimista!
Sandes, bolos e o famoso “CUP”, bebida que talvez hoje se chame sangria!
Entretanto apareceu o Grupo dos Camonianos numa vivenda cedida, não sei se pelo Fiscal do Bairro Sr. Almeida, onde também se realizavam bailes.
Entretanto abriu a sede do CRPBMC na praça E (S. Tomé e Príncipe), onde tínhamos como Barman o Sr. Donário sendo que as bebidas preferidas eram o anis e o tríplice e um consultório médico onde podíamos consultar o clínico Dr.Lalanda Ribeiro e mais tarde, num terreno contíguo fazer jogos de vólei e verbenas!
Daqui para a frente outras “estórias”. haveria para contar1
Mas “chato” sim, mas tanto também não!
Este espaço escrito também serve para os “velhotes” darem alguma luta aos mais “jovens”!
Nota: também fiz a comunhão e provo que sem andar na Universidade usava capa e batina!
(prova nº 1)
..............................................(prova nº 2)
já publicado em 2008 em CV
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Uma vida dificil como a de muita gente naquela época. Curioso, com tens tudo encadeado na tua cabeça. Lembro-me que as casas eram entreguas em função do agregado familiar. Desse tempo,recordo-me dos bailes em casa do Pedro Sarmento ao som de um gira-discos. O nome do Dr. lalanda Ribeiro é incontornável. Foi médico de muitos habitantes do bairro. O Dr. Lalanda, creio era desta zona da Beira-Baixa, e existem por aqui vários nomes Lalanda.Como tudo na vida as coisas mudaram. Ficou a saudade de tempos que não voltam. Mas a amizade, essa mantém-se, entre muitos de nós. E tu, Rafael, muito tens feito pela ressurgimento de amizades perdidas.
ResponderExcluirToma lá um abraço
Uma vida recheada de vida!... Fico à espera dos capítulos seguintes, para saber como é que enganaste a Celeste Maria!!!
ResponderExcluirAlfredo
ResponderExcluiro Senhor Administrador levou a Celeste Maria na pandeireta, porque é um pardalão descarado.Ninguém diz o que está ali !!!!