Octávio de Matos ...e não só ...
“…Eu sei que tenho um jeito, meio estúpido de ser..”, assim diz a canção da brasileira Maria Bethânia. Por vezes, penso que esta frase me assenta como uma luva. Explico-vos: emociono-me com facilidade. E, ontem à noite, quando no anfiteatro ao ar livre de Lagos, se apresentava uma “Revista” com um elenco conhecido, não pude deixar de sentir uma estranha emoção, quando vi entrar em palco o popular actor Octávio de Matos. Há anos, há mesmo muitos anos, tive a oportunidade de o ver representar numa sala de espectáculos lisboeta. E ontem, por cerca de duas horas, a nossa trajectória de novo coincidiu nos caminhos da vida. Ele, como actor, e eu como espectador do seu talento. Os anos, embranqueceram-lhe o cabelo. E está um pouco mais anafado. Mas a graça, essa, continua intacta. Melhor dizendo: refinou-se. É um dotado na arte de representar a “Revista à Portuguesa”. E naquela noite quente de Lagos, bem acompanhado de uma outra Senhora do teatro de Revista - Natalina José – Octávio de Matos deu largas à sua extraordinária comicidade. É justo de referir aqui, o grupo de novos actores, que ajudaram, em muito, à festa. De salientar que o anfiteatro estava bem composto, o que, só por si, dá logo outro colorido ao espectáculo. Rapidamente Octávio de Matos conquistou as simpatias do público. Pequeno de tamanho, mas enorme nessa arte difícil de pisar um palco, falava para a plateia em delírio, metendo “buchas” que nada tinham a ver com o papel a desempenhar. Resultado: os artistas que contracenavam com ele, desfaziam-se também a rir, e espectáculo ficava parado. Octávio, ria-se também, e dizia para Natalina José: “de que é que te estás a rir? … aqui só tem direito a rir o público, que pagou bilhete...” E ainda se riam mais. Foi uma noite de rábulas bem construídas, umas atrás das outras. De permeio, fado lisboeta cantado por uma jovem de excelente voz, em homenagem a Amália. Já quase no final do espectáculo, numa rábula sobre “perguntas escusadas”, Octávio de Matos, beija – ou faz que beija – uma actriz nova e “muito bem dotada” , empregada lá de casa, e entra Natalina José, que faz o papel de mulher dele, e lhe diz de olhos arregalados e voz agreste:”… António, estás a beijar a criada???!!!..".e ele responde com aquele seu trejeito de cara impagável e voz esganiçada: ”… não filha, estou a beijar o Cavaco Silva…”. Já no final, em tom coloquial, falou com o público. O actor despiu o seu manto de fantasia. Era de novo o cidadão comum. Como todos os que ali comungávamos daquele momento. Fiquei com a ideia de ser um excelente ser humano. E pude observar o carinho com que era tratado por todos os outros. Novos, ou menos novos. Natalina José chamou-lhe “irmão”, companheiro de trabalho de uma vida. Afinal, de uma vida consagrada ao Teatro de Revista . Aquele que é considerado, por alguns intelectuais da nossa praça, o parente pobre do nosso teatro. Mas, na verdade, em tempos que não são assim tão remotos, foi aquele género de espectáculo que mais eco fez do nosso mau estar colectivo, quando partíamos para Sul, tentando contrariar os Ventos Da História. Muitos destes actores, estiveram na primeira linha de combate, alguns sofrendo os dissabores da ousadia. E assim nos despedimos. Não sei se as nossas órbitas de vida se voltarão a cruzar. Mas, se nunca mais nos voltarmos a ver, obrigado Octávio de Matos pelo muito do que deu - e continua a dar - ao teatro português.
Quito Pereira
Quito Pereira
Gostei imenso de ler a tua bela cronica nesta manha de chuva aqui em Colmar. Para mim, o maior comico de sempre, continua sendo o Raul Solnado (que um dia até cheguei a cruzar na escadaria do prédio onde morava a minha avo).
ResponderExcluirMas tenho visto outros na RTPi. E logico que o humor tenha evoluido e tenho como referência nestes novos autores, os participantes do Gato Fedurento.
Quanto a esta foto, muito sugestiva, se foste mesmo o autor, é caso para se dizer "tiveste olho"!!!
Tal com nos, quando estamos em férias (e nao so) somos bastante ecléticos na escolha dos espectàculos que assistimos. Para além da musica, adoramos Ballet, Teatro e Cinema. Opera nao consigo là ir. Adormeço!
Boa continuaçao de férias!Que saudades eu tenho da Praia D.Ana e da Ponta da Piedade.
Là irei, se Deus quizer, em Setembro.
Um bjinho para a Sao!
A fantástica habilidade com que autores e actores conseguiam jogar com as palavras para tornearem e até ludibriarem os censores, tornou o teatro de revista como o espectáculo mais popular a que gentes de todas as condições sociais acorriam.
ResponderExcluirO Quito fez muito bem em aqui o recordar através da sua crónica bem humorada, mas com a inevitável referência às condições em que o mesmo se desenvolvia.
Porque a desenvoltura da escrita do Quito não nos permite interrupções, li a crónica de seguida, sem pausas.
Demorei é algum tempo a iniciar a leitura.
É que a fotografia que a encima tem um poder de atracção fatal...
Concordo Quito! São os artistas que mais facilmente chegam ao povo! Sempre foi assim. Tenham eles quem lhes faça textos com qualidade ( aqui é que me parece que há déficit) e continuarão a ter um papel fundamental na divulgação daquela forma de arte muito popular.
ResponderExcluirÓ Quito agora vou ao café e depois digo-te como é!
ResponderExcluirSe a São nãopoe mão em ti...
Amigos
ResponderExcluirÉ um facto, que haverá hoje um deficit de qualidade, se entendermos que aquilo que se podia ler nas entrelinhas, esbateu-se. Sobra o teatro de raíz popular. Mas há uma verdade que tem que ser dita: mesmo com este teatro que já não é de RESISTÊNCIA, há rábulas de fazer rir o mais circunspecto. A graça está lá. E o talento também.
A descrição feita para ser lida mas sugerindo
ResponderExcluir"faz de conta" que estás a assistir...
Gosto de um bom teatro de Revista.
Continuem a gozar bem as férias!
Vai linda vai...!
ResponderExcluirAfinal estás a banhos ou andas a arregalar o olho a todas as marcas de "carros"?
Emocionas-te?!
Um jeito meio estúpido?!
Olha, pega na menina e compra-lhe umas roupinhas decentes...
Tu e o Octávio de Matos,dois grandes actores!
Um no palco,outro na escrivaninha.
Agora que regressei do café já te posso dizer, escrevendo, em primeiro lugar, que a foto que escolheste foi de certo modo sugestionada pelo que "miras" na praia!
ResponderExcluirSei que tomares banho, preferes que seja em casa e com água quente!
Preferes passear pelo areal(sózinho) deitando o "rabo do olho" nalgum também "rabo" ou "bunda" como dizem os brasileiros!
Claro que tiveste algum pudor e enfiaste uns calções decentes á artista da foto!
Mas imagino-te devidamente acomodado ao lado de Dona São Pereira a divertir-te com a revista com o Octávio de Matos e Natalina José!
A São por vezes acotevelava-te para seres mais contido nas rizadas...pois as dela já eram suficientemente audíveis no auditório!
Também eu e a Celeste fomos muitas vezes a Lisboa e outras vezes ao Porto ver revistas!
Ainda hoje em dia o fazemos, embora sejam mais frequentes os Musicais do La Féria, de que gostamos muito!
É certo que antes do 25 de Abril a revista tinha muita popularidade, pois como nem todos os textos podiam ser exibidos na integra, havia sempre maneira de lhes dar a volta,isto porque os actores de então eram verdadeiros mestres nesta dificil arte da "REVISTA À PORTUGUESA"
Pelo Parque Mayer passaram nomes com Maria Matos, Vilaret, Raul Solnado, Mirita Casimiro, Eugénio Salvador, José Viana , Ivone Silva, Laura Alves e nos mais recentes grandes Revistas com Marina Mota, Carlos Cunha, Rosa do canto, Maria João Abreu, José Raposo,etc.,
Vasco Morgado era uma referência como empresário de Revista e Teatro!
A seguir ao 25 de Abril a Revista passou por um grande declínio ,mas nos últimos anos recuperou um pouco de que é exemplo esta que foste ver.
Se perferirem a preferir, escolham, porque tou baralhdo!
ResponderExcluirAinda não vi por aqui a apreciação do Tonito Dias à fotografia que o Quito tirou.
ResponderExcluirGostava de saber se é digna de menção honrosa...
Cá para mim é, mas como não sou especialista a minha opinião vale pouco...
Faltam também ( mas isso é só quando for noite cerrada ), as opiniões especializadas ( ainda e só sobre a dita fotografia ) do Carlos Viana, do Abilio e do Alfredo, cada um no seu ramo.
ResponderExcluirO primeiro sobre as incidências (cu)lturais de tal obra de arte.
O segundo sobre a estabilidade e(cu)nómica do assunto.
O terceiro, sobre a influência no ambiente dos vapores quimicos que dali podem resultar.
Gostei de ler a descrição como no presente reviveste o passado sobre vários aspectos. Se o beijo deu origem a uma má interpretação que me fez rir, já a fotografia não deixa dúvidas nenhumas em relação à capacidade do fotógrafo. Para um bom texto uma boa fotografia. O artigo termina com uma referência muito humana e merecida para com os atores de revista, como já nos habituaste.
ResponderExcluirQuando cá cheguei fiquei admirado com a existência do teatro "Variétés" de Gilles Latulippe, cujas peças eram autênticas revistas que estavam sempre cheias. Muito apreciadas, havia pessoas que vinham de muito longe só para verem as revistas. Pelo que vejo a nossa revista está para durar, enquanto que o "Variétés" já fechou as portas há uns anos por falta de rendição de atores nesse campo. O mesmo problema com pessoal que não só "aceitasse" como soubesse confeccionar e alterar o guarda roupa, que não foi menos do que reciclar atores. Outros tempos, outros locais.
Celeste Maria
ResponderExcluirDigo-te com dizia o grande Vasco Santana: não me ralhes que eu estou doentinho ...
Já estou como Felício: gostava de ver a apreciação do Tonito ...ao texto ...
Bom texto, como é normal.
ResponderExcluirA foto tem PRETO A MAIS.
O bronsedo não quer preto, quer tudo bronse.
Tonito.
Estou esclarecido. Como é normal ...
ResponderExcluirO Tonito Dias falou "ex catedra", direito que lhe é reconhecido como profundo conhecedor da arte fotográfica.
ResponderExcluirE disse o essencial. Também concordo. De facto a fotografia tem preto a mais.
Mais bronzeada, bastaria um pequeno acinzentado esbatido e ficaria perfeita.
Acrescentaria até que um plano mais aberto lhe daria o toque de uma obra de arte.
O BRONSE É com Z e não com S.
ResponderExcluirNão sou perfeito.
Um Abraço.
Tonito.
O texto do Quito tem aquela qualidade a que já nos habituou, conseguindo que numa leitura dum fôlego, acompanhássemos o desenrolar de toda a revista.
ResponderExcluirNem a este texto faltou a oportuna foto do momento, exactamente anterior, àquele em que o Octávio de Matos beija o bronze da empregada...
Tonito será que o preto está mesmo a mais? Querias mesmo ver a menina em bronze total para deleite dos olhos gulosos de alguns dos nossos amigos?
Abílio
O Quito rumou a sul na busca de sol e mar mas não dispensa um encontro com a arte. Neste caso, a nobre arte de Talma cruza-se na sua órbita porque ele procura esse cruzamento. E é assim, porque tem um jeito muito especial de ser, que aqui nos traz e connosco partilha as suas emoções.
ResponderExcluirAprecia "a difícil arte de fazer rir" e oferece à nossa curiosidade um actor que eu não conhecia.
Octávio de Matos fica na minha memória e, cruzando-se na minha órbita, não perderei a oportunidade de matar a curiosidade que o Quito aqui me deixou.
O teatro é uma das minhas grandes paixões. Tenho uma enorme admiração por todos aqueles que têm a coragem de pisar um palco, vestindo roupagem que não é a sua, transmitindo a uma multidão os mais diversos sentimentos que vão desde a alegria à tristeza, desde a frustração à afirmação. Ainda mais do que o poeta, o actor é o supremo fingidor.
Meu caro Quito, renovo os desejos que te deixei em Fuerteventura. Continua a aproveitar o melhor do melhor. E vai contando aos teus amigos, certo?
Um abração para ti e para a tua São.
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Anda por aqui um Cromo que fala "ex catedra" com todo o direito mas eu não tenho pedalada para o acompanhar. Ainda ontem passeava a sua imaginação pela lua e agora, já com os pés assentes em terra, passeia a sua capacidade de intervenção quase me esmagando com a denúncia pública das minhas ausências - vá lá, desta vez não me chamou sorna - esquecendo-se que eu sou um pobre velho reformado.
Obrigou-me a estudar latim ( já vou na terceira aula ) e não percebe que é uma violência para a minha pobre cabeça quadrada o ter que agarrar este cabrito saltitão e brincalhão que se movimenta a uma velocidade que já não é para as minhas pobres pernas.
Ainda por cima humilha-me. A minha alta condição de CAF ( quem não souber o que isto é, paciência, não estou aqui para ensinar quem não quer aprender) é desrespeitada porque me pede opinião técnica em simultaneidade com simples curiosos. Mas, ainda assim, cá vai:
O preto não está a mais. Está muito bem assim. Se lhe retirarmos o preto não há necessidade de usar a imaginação.
E a imaginação é o que nos vai valendo...
Para todos, abraçus e beijus conforme as preferências.
Carlos Viana.
Reconheço a justeza da farpa vianense.
ResponderExcluirNa verdade, foi um deslize imperdoável da minha parte, ter metido no mesmo saco um CAF ( quem não souber o que isto é, paciência, eu também não estou aqui para ensinar quem não quer aprender ), com outros que não são CAF's...
Agora, só para armar ao pingarelho e para testar os conhecimentos já adquiridos pelo Carlos Viana nas aulas de latim:
Praeferandum imaginarium quod nillius essere...
Rui
ResponderExcluirDeixa-me ter uma franqueza: eu para descodificar esta frase em latim, via-me grego ...ainda bem que calhou ao Viana ...
Meu Amigo Quito,
ResponderExcluirQuem te devia explicar era ele que anda a estudar latim no Seminário, mas por ti aqui vai.
O Viana, que raramente acerta no que diz,disse uma coisa lá atrás que eu acho inteiramente certa:
- "E a imaginação é o que nos vai valendo..."
E a frase em latim quer dizer mais ou menos o mesmo:
É preferível ser imaginativo que nada ser...
Estou mesmo a ver que estou perante dois pingarelheiros.
ResponderExcluirUm, arma-se em estudioso de latim e até afirma que já vai na terceira lição que, nem a sua elevada condição de CAF (que vale o que vale), o safa; o outro, sem que possamos contradizer o que escreve, mas não pondo em dúvida o seu alto conhecimento, a todo o momento, sem quê nem porquê, chuta-nos uma frase de latinório macarrónico vício que lhe resta dos Decretus de saudosa memória...
Como ando sem tempo, não me alongo mais, passo a bola e vou vos deixar no ping-pong
O Abilio, fazendo jus ao seu cognome, arma-se em Durão e descasca pessegueiro.
ResponderExcluirDepois, arma-se ao pingarelho ( mais um a juntar-se ao grupo... )e diz que anda sem tempo. Pois, pois, o que ele foge é de encartar, coisa que o saudoso Leite Braga a jogar à sueca catalogava:
- O Senhor está a fazer uma arrenúncia!
Do Mestre Alfredo já nem falo!
ResponderExcluirAgora faz-nos crer que anda muito ocupado a coleccionar cromos.
E a jogar ao abafa para lhe sair o numero da sorte.
Tudo para, ele também, fugir ao encarte...