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domingo, 11 de julho de 2010

CRIME E CASTIGOS -JOJO, E DESTA LEMBRAS-TE?




E deste "post" lembras-te!!!! ?

Um abraço

Jose Leitão



sábado, 4 de Outubro de 2008
CRIME E CASTIGOS


Os Costas assumiram desde muito cedo e com convicção a sua condição de hipocondríacos. Concedo que, na família, há uns mais militantes do que outros, mas isso pouco importa para o caso. Somos pois hipocondríacos

(se calhar é para disfarçar um nariz a imitar um papa formigas, digo eu,..)

e desde muito novos essa característica se manifestou. No caso da minha mana Belinha ela nem precisou de ir muito longe buscar inspiração.



Na frente de nossa casa, na Rua F 25, ensanduichado entre o Senhor Lizardo e o Senhor Artur, morava o Senhor Caixeiro. Já não me recordo o que fazia e se o nome tinha que ver com uma profissão que alguma vez tivesse exercido em vida normal. Ele para mim sempre foi muito velho e várias vezes veio um ambulância buscá-lo ao Bairro já moribundo e outras tantas o trouxe de volta. Menos na última vez. O Senhor Caixeiro tinha uma característica: era coxo. Mas não da forma habitual de ser coxo. Tinha uma perna que não dobrava pelo joelho e que estava permanentemente esticada. Por isso coxeava. Quem quiser saber qual é a sensação do coxear normal é simples: basta caminhar pelas ruas do Bairro com um pé no passeio e outro na estrada. Este método de andar tem uma aplicação fantástica: se estiverem bêbados usem-na e verifiquem que deixam de coxear por aplicação de um princípio elementar da física moderna! Acertem mas é com o lado do passeio... Mas o coxear por via de uma perna tesa era diferente, pois não há aquele sobe e desce, ou movimento pendular, mas antes um caminhar gaguejante tipo vai não vai.

Mas voltemos à mana.

Um dia, a minha irmã Belinha, pessoa muito sensível e impressionável, acorda de ... perna esticada. Como o Senhor Caixeiro. A minha mãe incrédula tenta perceber o que se está a passar. É difícil entender que uma criança adormeça normalmente e acorde de perna hirta como um pau. Mas se a doença (?) não provocava febre nem era contagiosa mesmo assim a mana Bela pôde não ir à escola mas andar a passear aos soluços. Não me recordo bem se coxeava da mesma perna que o Senhor Caixeiro. Mas não o creio, pois se assim fosse podiam passear os dois alegremente agarrados as suas idiossincráticas pernas partilhando a que tinham em boa condição. Mas deixariam ambos de coxear o que faria regressar à Escola a minha irmã acompanhada agora pelo Senhor Caixeiro solidário, em sentido literal, com a mana. Tenho dúvidas que ele quisesse. À uma , porque ficava mais longe das ambulâncias, às duas, porque não acredito que quisesse voltar a ter que recitar de cor as serras de Portugal: Peneda, Soajo, Gerês, Larouco, Barroso, Cabreira,...

(tanta inutilidade que a escola no impingia, Menino sabes o que é a Pátria? Lá vamos cantando e rindo, levados levados sim...)

ou os minerais talco, gesso, calcite, fluorite, apatite...

Sei que a coisa durou algum tempo para preocupação crescente da Lurdes. Por isso a Lurdes não atendeu às nossas sugestões irmãs de a levar à Santa da Ladeira, e foi com espírito de quem acredita na ciência ao nosso médico, Dr. Pimentel, na Rua da Sofia. Acontece que o consultório do douto doutor se situava no último andar de um prédio meio em ruínas pelo que havia que subir uma longa, estreita e escura escada. Não sei se pelas dificuldades alpinistas, se pelo medo de vir de lá com uma receita de um purgante

(o médico tinha por vezes alguns equívocos)

a perna da mana Belinha deu em começar a ceder pelo que chegados ao cume já andava como uma pessoal normal. Mesmo assim foi vista pelo médico a insistência de todos, menos da Belinha, claro. Após prolongado exame, que incluiu umas marteladas no joelho que faziam voltar não só a perna doente como a outra à posição horizontal, para pavor compreensível da D. Lurdes, o veredicto foi simples, definitivo e curto: a Belinha sofria de mimetismo! E para tal não havia remédio, Dr. Pimentel dixit. A Lurdes pessoa apegada ao positivismo lógico, herdeiro moderno do velho racionalismo, não se conformou com o diagnóstico

(afinal se há um efeito tem que haver uma causa, e é essa que tem que ser combatida
)

e toca de consultar a Grande Enciclopédia das Doenças - Edição para Tótós, que tínhamos recebido como brinde após uma compra de livros às Selecções do Readers Digest. Procurou pela entrada mimetismo e nada. Procurou por perna hirta ... e nada. A única coisa que encontrou mais ou menos relacionada foi uma entrada sobre pénis hirto

(também conhecido por priapismo é uma erecção permanente e dolorosa que ocorre sem estimulação sexual e persiste após 6 horas.)

que a deixou a repetir de forma estranha

-- Seis horas, meu Deus! Seis horas.

e nós

-- Qual seis horas mãe, é uma hora e temos fome!

e ela

-- Seis horas. Isto sim é que são doenças.

Desaparecido o efeito mas ignorada a causa a minha mãe resolveu algo que a medicina veio a consagrar mais tarde: aplicar um antibiótico de largo espectro, dosagem para criança. E disse:

-- A próxima vez que vieres com esse problema chamo o homem do saco e ele leva-te.

Não voltámos a ter pernas hirtas lá por casa. Priapismo já não posso afiançar!

Jó-Jó

Nota de rodapé do ADM Castelão:
O Senhor Joaquim Caixeiro tinha a profissão de" CARTEIRO"
Tinha dois filhos: o Mário e a Leocádia - já faleceram
Um dos filhos do Mário tem passado lá pela casa, e consta que irá ser vendida.

3 comentários:

  1. Uma peripécia da família Costa contada
    pelo Jójó...
    Agora recordada e sempre bem-vinda!

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  2. inda hoje vi a mana Belinha a andar sã e escorreita!
    Uma descrição...de ir às lágrimas.

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  3. José Leitão,
    Eu não sei se o Jó-Jó se lembra.
    Sei que eu me lembro e muito bem.
    Reli e mais uma vez sorri e apreciei imenso.
    Abraço.
    Carlos Viana

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